sábado, 28 de fevereiro de 2009

EDUCAÇÃO FÍSICA ESPECIAL

REVISÃO DE CONCEITOS

Doença NÃO É SINÔNIMO DE Deficiência

Deficiência NÃO É SINÔNIMO DE Ineficiência

Defeito – imperfeição; qualquer perda ou anormalidade da função ou estrutura (psicológica, fisiológica, anatômica)
Deficiência – falta, falha, carência; imperfeição; desvantagem resultante de um defeito ou de uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho de uma função/papel que seria “normal” de acordo com a idade, sexo, fatores culturais e sociais para determinado indivíduo.
Doença - Conjunto de sinais e/ou sintomas que têm uma só causa; moléstia; qualquer desvio do estado normal; Mania, vício, defeito.
Estigma – Cicatriz, marca, sinal; aquilo que marca, que assinala.
Excepcional – Em que há, ou que constitui ou envolve exceção; tudo aquilo que foge à regra, tanto para mais quanto para menos.
Incapacidade – Falta de capacidade, de habilidade, de aptidão para um determinado fim; inaptidão; qualquer restrição ou falta de habilidade para executar uma atividade de maneira ou dentro do padrão considerado “normal” para um ser humano – pode se resultado de um defeito.
Ineficiência – falta de eficiência, de eficácia, não produz o efeito.

Deficiência é algo relativo!!!

Associação por interesses, modos de “enxergar” => Estigma
Garrincha / vítima
Beethoven / herói
Stephen Hawkins / perdedor/vencedor

Causas das deficiências: traumatismos diabetes
a- pré-natais / desnutrição (mãe/cça) / genética
b- peri-natais / compressão do plexo braquial /radiações
c- pós-natais / prematuridade / fórceps
anóxia/hipóxia / icterícia
intoxicações/ infecções
AS DEFICIÊNCIAS PODEM SER DIVIDIDAS EM :


SENSORIAIS: VISUAL Conforme a divisão do esporte adaptado (B1 /B2 /B3) de acordo com o IPC (International Paralympic Commitee)
Conforme parâmetros educacionais e legais (cego, visão sub-normal)

AUDITIVA Não há dentro do esporte adaptado classificação para DA, apesar de até haver jogos próprios, substituindo sinais sonoros por visuais.
Conforme localização da lesão (condutiva, neurosensorial) ou conforme o nível de perda (leve, moderada, acentuada, grave, profunda), ou, conforme a época em que ocorreu (pré-lingual, pós-lingual)

MOTORA: FÍSICA Conforme a capacidade motora e é por modalidade de acordo com o IPC reunindo Pólio, LM, AMP, PC, LA, etc.

COGNITIVA: MENTAL Conforme a habilidade motora – Special Olympics, ou,
Conforme déficit intelectual (leve, moderado, severo, profundo) – parâmetros médicos, ou,
Conforme capacidade de produção do individuo (educável, treinável, dependente) – parâmetros educacionais mais antigos, ou,
Conforme comportamento adaptativo (comunicação, autocuidado, vida no lar, habilidades sociais, uso da comunidade, autodireção, saúde e segurança, desempenho acadêmico funcional, lazer e trabalho) – proposta mais atual defendida pela AAMR (American Association on Mental Retardation)


Atitudes relacionadas a PPD através dos tempos

Antiguidade – era pré-cristã
Lei do mais forte, lei de sobrevivência, negligência, maus tratos, extermínio – povos nômades, rituais místicos, crença em castigo e vingança dos deuses ou “maus espíritos” e esses se manifestavam através da “anormalidade”(Kirk,Gallagher,1987; Mosquera,2000).

Idade Média
Período das trevas – barbarismo e estagnação
Predomínio do cristianismo – a morte foi substituída pela segregação (“proteção”, “compadecimento” X “sobrenatural”, “estado demoníaco”). Existiram lugares de abrigo só para recolher esse tipo de pessoa (ex: séc. IV, na Capadócia, abrigo para cegos e séc. XIII em Paris também) (Kirk,Gallagher,1987; Mosquera,2000).

Após Renascimento
Fuga dos misticismos, aparecimento das primeiras universidades, primeiros humanistas, reconhecimento do valor do homem e da humanidade, avanço para a reabilitação física, fundadas as primeiras instituições para uma educação à parte dos surdos-mudos dos cegos” (Kirk,Gallagher,1987; Mosquera,2000).

Tempos modernos – séc.XX
Revolução Industrial – possibilidade para quem produzisse.
I e II Guerra Mundial – paradoxo, aumento do número de inválidos, preocupação e cuidado com a reabilitação das PPDs, principalmente aquelas “feitas” pela guerra, ganhando volume e novos rumos a partir da II G.G.M., esporte terapêutico. Porém ainda existia o enclausuramento, a segregação, o extermínio, enfim o resíduo das culturas ao longo dos tempos se faz presente. Exemplo: o extermínio era ditado pelos nazistas para aqueles que eram doentes e inúteis ao trabalho. Isso tudo apesar de estarmos hoje discutindo e tentando implantar filosofias de trabalho que busquem construir uma sociedade que saiba lidar com as diferenças e dê um lugar para todos de maneira justa.


“ ..., outros obstáculos continuaram e continuam existindo e o maior deles, sem dúvida era e é a desinformação da população, e é este o principal motivo do afastamento dos deficientes do exercício de plena cidadania.”(Mosquera, 2000).

Deficiência Auditiva (DA)
Essa deficiência restringe a possibilidade de absorção de informações por via auditiva, podendo levar assim a uma série de dificuldades como a de interação com o mundo a sua volta.
Pessoas Portadoras de Deficiência Auditiva (DA) - São pessoas que possuem alguma condição de privação sensorial acarretando em uma alteração na percepção do mundo.
A perda auditiva pode ser leve, moderada, severa ou profunda de acordo com os resultados o teste de audiometria. (Graus de intensidade das perdas auditivas)
A grande adaptação para a prática esportiva reside na troca de sinais sonoros por sinais visuais. Em termos de Paraolimpíadas os DAs ainda não fazem parte e isso em parte se justifica por uma postura da própria organização esportiva internacional deles.

Deficiência Física (DF)

Pessoa Portadora de Deficiência Física (DF) – Segundo Bieler (1990), as PPDFs são indivíduos com alteração ou algum comprometimento do seu quadro motor como coordenação, locomoção ou movimento.
A DF refere-se ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema ósteo-articular, muscular e nervoso. Logo, ela pode ser congênita ou adquirida, tendo outras formas de caracterizar como fazer uma distinção em relação à localização da lesão (ex:neurológica do sistema nervoso central ou do periférico), à extensão da lesão (se é parcial ou completa), aos membros envolvidos (tetra ou paraplegia), à tonicidade da musculatura, entre outros. Porém depende do diagnóstico da pessoa para poder classificá-la.
Como a DF tem um leque grande de ocorrência, cada caso deve ser olhado individualmente.
A grande adaptação para a prática esportiva reside na classificação para a competição em bases justas de capacidades motoras. Em termos de Paraolimpíadas as PPDFs fazem parte e são responsáveis por uma enorme participação, bem como pela direção que o esporte paraolímpico mundial tem hoje.

Deficiência Mental (DM)

Como não há consenso entre os profissionais para compreender a DM, convivem hoje parâmetros diferentes vindos de épocas e prismas variados.
Conforme AAMR (Ass. Am. de Retardo Mental), o deficiente mental é considerado aquele que apresenta limitação na sua capacidade de resolver problemas e acumular conhecimentos, obtendo nos testes de inteligência um valor entre 70-75 ou menor (Funcionamento Intelectual), e apresentando limitações significativas em dois ou mais aspectos de suas capacidades necessárias para adaptar-se e interagir em um ambiente de acordo com sua faixa etária e cultural (Comportamentos Adaptativos).
Áreas do Comportamento Adaptativo: lazer; competências sociais; trabalho
comunicação; cuidados pessoais; auto-direção; comportamentos comunitários; saúde e segurança; autonomia em casa; funcionamento acadêmico;

Deficiência Visual (DV)

Pessoa Portadora de Deficiência Visual (DV) – Segundo Hoffmann (1999), é a pessoa que tem a anulação ou o sério comprometimento da captação de informações ambientais pelo canal perceptivo da visão, categorizando seus portadores em cegos ou com visão subnormal, respectivamente.
Ela pode ser congênita ou adquirida.
Há a pessoa cega, para quem tem perda total, e a de visão subnormal, para quem tem parcial capacidade visual (acuidade e campo), como por exemplo, perceber se está claro ou escuro, perceber alguma forma grande sem definição. Existem crianças que têm problema de visão grande e que precisam usar lentes especiais para poder enxergar, mas não são consideradas DV.
Acuidade Visual - Percepção visual.
Campo Visual - Área de alcance da visão. O comum é as pessoas terem até 180 graus e ter de 0 até 20 graus para ser considerado DV.
Já no esporte adaptado competitivo para as PPDVs, o IPC junto com a IBSA prevêem três classes para todas as modalidades, dentro do sistema de classificação funcional. Estas classes são baseadas na acuidade visual do atleta e mantêm a mesma filosofia do sistema de classificação clínico.

Noção importante

Uma das maiores dificuldades é detectar um problema o mais cedo possível, para que se possa, através dos mais variados recursos, criar condições de uma criança poder desenvolver-se em todos os aspectos dentro de um quadro tido como esperado. Sabemos também que há diferença baseada no quão cedo o problema foi identificado e tratado, a qualidade do tratamento oferecido, bem como a influência de sua aceitação familiar e do seu meio social, entre outros pontos.
Devemos procurar até identificar problemas que percebermos numa criança para informar a família, e possivelmente indicar a visita a um médico. Porém para chegar a esse ponto, devemos procurar nos certificar do que estamos percebendo, trocar observações com colegas que trabalham com o mesmo aluno, buscar a troca de idéias com outro profissional que seja preferencialmente da área observada e falar-lhe confidencialmente a respeito do caso, pois uma suspeita infundada de qualquer natureza poderia causar constrangimento e até danos morais sérios.

Procedimentos básicos para atuar com o aluno deficiente

Algumas dicas básicas e lembretes importantes para se lidar com alunos portadores de alguma deficiência em sua aula:
• Estimular a integração social;
• Criar situações de prática de atividades divididas em níveis de capacidades motoras para todos, muitas vezes mesclando os diferentes níveis com objetivos educacionais amplos;
• Desenvolver todas as situações psicomotoras e sociais que você acredita estarem de acordo com a faixa etária e os objetivos educacionais escolhidos, associando à realidade;
• Estimular o hábito e a prática de jogos de salão e atividades esportivas em grupo bem como atividades que visem à independência do indivíduo;
• Dar direção e limites, de forma que o aluno estabeleça relação com o grupo social em que vive, ficando à vontade junto com os seus colegas (e o vice-versa possa ocorrer);
• Deixar que o nosso aluno fique à vontade no ambiente de aula e seus colegas também, informando o que for necessário e dando o exemplo de atitude respeitosa frente às diferentes necessidades em relação aos alunos;
• Propor atividades que desenvolvam sua autoconfiança e descoberta de potencialidades individuais;
• Apresentar exemplos visuais e concretos sempre que possível, com explicação/descrição clara;
• Ensinar cuidados básicos com o intuito de prevenção de acidentes, como por exemplo remover o aparelho auditivo (óculos, olho de vidro, etc) quando estiver trabalhando com uma pessoa que o usa e for realizar uma atividade vigorosa e/ou que possa oferecer risco de dano ao aparelho, ou ainda vir à machucá-la;
• Habilidades artísticas são ferramentas fantásticas, logo, desenvolver a percepção e o gosto pela música e atividades rítmicas, bem como criar situações de prática de atividades de expressão corporal, como o teatro;
• Oferecer práticas lúdicas com atividades que estimulem o desenvolvimento dos aspectos cognitivo, como a memória, e as diversas sensações perceptivas como a visual, a tátil, a cinestésica, etc, além dos aspectos motores, como a lateralidade, entre outros;
• Procurar conhecer os aspectos de saúde envolvidos com as patologias em que trabalha, e ter sempre planejados os procedimentos visando à segurança e integridade física dos alunos, em especial daquele que tem alguma DF;
• Não subestime as possibilidades, nem superestime as dificuldades, e vice-versa;
• Quando quiser alguma informação de uma pessoa deficiente, dirija-se diretamente a ela e não a seus acompanhantes ou intérpretes;
• Sempre que quiser ajudar, ofereça ajuda, espere sua oferta ser aceita antes de ajudar e nunca deixe de perguntar qual a forma mais adequada de fazê-lo;
• Se ocorrer alguma situação embaraçosa, uma boa dose de delicadeza, sinceridade, respeito e bom humor nunca falham;
• Utilizar o próprio corpo como meio de comunicação e expressão;
• Desenvolver o espírito de solidariedade e de cooperação entre todos;
• Estimular a criatividade;
• Aperfeiçoar as técnicas de movimento visando maior rendimento, sempre que possível e pertinente;
• Buscar melhorar a capacidade própria de ouvir e compreender, de planejar e resolver problemas aplicados ao maior número possível de situações;
• Desenvolver hábitos que favoreçam à saúde e à higiene;
• Criar situações de prática de atividades nas quais as limitações não sejam evidenciadas, mas sim haja a valorização do trabalho em equipe – todos que fazem parte podem contribuir ao seu modo para o grupo alcançar o seu objetivo – ex: Jogos Cooperativos;
• Levar o aluno a reconhecer suas capacidades e possibilidades no sentido de perceber suas limitações, aceitando-as e procurando superá-las;
• Preparar variados exercícios e vivências em ambiente controlado, ou seja, totalmente seguro, principalmente se tivermos um aluno DV, com o intuito de trabalhar a descoberta de um esquema corporal mais significativo e de uma percepção espacial adequada, pois este é um eficiente meio de evitar ou minimizar problemas como, por exemplo, uma marcha insegura, instável e pouco produtiva;
• Deixar um ambiente rico e seguro para a criança explorar, lembrando porém que é importante manter as coisas no lugar para que uma criança DV saiba o que tem, aonde tem e adquira independência para se locomover bem, assim como mexer por conta própria, entre outras providências;
• Sempre que for estar com uma pessoa DV, identifique-se, pois ele não o enxerga. Quando necessitar afastar-se, comunique-o. Com isso você evitará a desagradável situação de deixá-lo falando sozinho, chamando a atenção dos outros sobre si.
• Pelo fato do cego não enxergar as expressões fisionômicas e os gestos das pessoas, quando você estiver conversando com ele fale sobre os seus sentimentos e emoções, para que haja um bom relacionamento;
• Os objetivos para o desenvolvimento de aulas são os mesmos para qualquer aluno, inclusive um que possua alguma deficiência – normalmente devemos nos preocupar em adaptar as regras, deslocamentos, organizações de cada atividade, para dar oportunidade a todos;
• Entre outros.

OBS: Defendemos a classificação adotada pela AAMR, que é baseada no nível de apoio que o indivíduo precisa para funcionar no dia a dia. Isto porque esta classificação, além de ser fruto de pesquisas mais recentes e adequadas a uma visão de sociedade inclusiva, também enfoca a adaptação do indivíduo ao seu meio social e às condições de vida que possui, tanto observando suas limitações bem como as suas capacidades, para que as coisas e pessoas possam se adequar à convivência (pessoal, social, profissional). Desta forma podemos aceitar com mais facilidade, por exemplo, um aluno que é capaz de tocar piano e não é capaz de ler as letras de um cartaz e nem por isso rotulá-lo de incapaz de aprender, de se desenvolver e se adaptar à vida em sociedade.
Atualmente há uma preocupação em de fato se aplicar a idéia de que a sociedade necessita se adaptar para poder receber e atuar com cada indivíduo que a integra, e não ser apenas o portador de deficiência que necessita se adaptar à sociedade, como se praticava antigamente, apesar dos variados discursos.


ESCOLA INCLUSIVA

A Educação Inclusiva vem se mostrando como uma nova tendência educacional e social, tornando-se uma realidade em muitos países, inclusive no Brasil. O princípio da inclusão consiste no reconhecimento da necessidade de se caminhar rumo à escola para todos – um lugar que inclua todos os alunos, que celebre a diferença, que apóie a aprendizagem e responda às necessidades individuais. Para que isso seja realidade, a escola deve estar preparada para receber, respeitar e se comunicar com todos os seus alunos e membros da comunidade.
Escola inclusiva é um lugar do qual todos fazem parte, em que todos são aceitos, onde ajudam e são ajudados por seus colegas e outros membros da comunidade escolar, para que suas necessidades educacionais sejam satisfeitas. Significa que ela educa todos os alunos em salas regulares, ou seja, todos os alunos recebem oportunidades educacionais adequadas, ajustadas às suas habilidades e necessidades, recebendo apoio tanto alunos como professores, para alcançar o sucesso nas principais atividades. A criança pode aprender e fazer parte da vida escolar comunitária, pois a diversidade é valorizada.
Essa escola necessita e traz, ao mesmo tempo, a renovação escolar ou reestruturação que exige repensar as nossas atitudes e crenças sobre crianças, educação, atmosfera e cultura da escola. Isso porque essa educação inclusiva prevê uma escola que seja acolhedora e sensível, capaz de responder, de maneira humana e eficiente, às necessidades e habilidades específicas de todos os alunos.
Há uma preocupação muito grande em trabalhar esse professor do ensino regular que vai ser peça fundamental na mudança desse paradigma: “Ajudar aos professores tornarem-se melhores profissionais no contexto da inclusão torna-os conscientes de que novos desafios finalmente vão beneficiar todos os alunos.“ (Stainback, S. & Stainback, W., 1999, pág. 26). Porém, é imprescindível que os professores abram sua mente para lidar com alunos que trazem um outro universo de necessidades e informações.
O processo de mudança passa pela identificação do que é lidar com as diferenças, pela necessidade de se procurar novos caminhos, novas respostas, novas maneiras de atuação, novas habilidades, buscando relacionar-se sempre com a realidade da vida em cada contato, ou seja, a forma de contato com os outros, sejam quem forem, o reconhecimento do potencial e da vulnerabilidade de cada um em cada papel, do conhecimento e da falta do mesmo a respeito de algo, da capacidade de prontidão para as coisas e da falibilidade natural de todas as pessoas frente às situações; enfim, o desafio não ser só para ele, professor, e sim para cada um dentro do processo, aluno, família, escola, comunidade, sociedade.
A teoria de Educação Inclusiva é baseada numa questão de direitos humanos, ou seja, apesar das diferenças, todos temos direitos iguais. Ela precisa e se apóia em um tripé que é composto pela rede de apoio, consulta cooperativa e trabalho em equipe e aprendizagem cooperativa
A necessidade de criação de uma Rede de Apoio significa dizer a formação de uma organização e coordenação de equipes e indivíduos que apóiam uns aos outros através das conexões formais e informais. Ela é fundamental para o desenvolvimento da educação inclusiva.
Para desenvolvimento dessa teoria, os pesquisadores também defendem a Consulta Cooperativa e o Trabalho em Equipe, que compreende indivíduos de várias especialidades trabalhando juntos para planejar e implementar programas para diferentes alunos em ambientes integrados.
A outra base do tripé é a Aprendizagem Cooperativa, ou seja, a criação de atmosfera de aprendizagem em sala de aula em que vários interesses e habilidades podem atingir o seu potencial, como por exemplo agrupamentos heterogêneos com tutela dos pares em várias formas e grupo de ensino para atividades de instrução e recreação (instrução em multinível). A interação e a comunicação facilitadas ajudam a interação entre pares, visando ganhos nas habilidades acadêmicas e sociais.
Acredita-se que a diversidade fortaleça a turma e ofereça a todos os seus membros maiores oportunidades de aprendizagem. Logo, adaptar o ambiente às necessidades da diversidade dos alunos, estar pronto para receber e dar condições de usufruto igual para todos, são desafios para os professores, para a escola, para a sociedade.
“... As diferenças encerram grandes oportunidades para aprendizagem. Elas oferecem um recurso livre, abundante e renovável....” (Barth, Robert, 1990 apud Stainback, S. & Stainback, W., 1999, pág. XI)
Entendemos que os pesquisadores, de maneira geral, tratam a questão como atitude da sociedade (entenda política, cultura, educação, experiência voltada para um engajamento do indivíduo com a construção dessa sociedade da qual faz parte), pois de alguma forma eles dizem que a inclusão social, quando ocorre, reforça a prática da idéia de que as diferenças são aceitas e respeitadas pela sociedade.
“Segundo Skrtic (1994), a inclusão é mais que um modelo para prestação de serviços na Educação Especial. É um novo paradigma de pensamento e ação, no sentido de incluir todos os indivíduos em uma sociedade na qual a diversidade está se tornando mais norma do que exceção” (Stainback, S. & Stainback, W., 1999, pág. 31)
Historicamente a filosofia e a prática segregacionista (filosofia em que acreditavam que poderiam ajudar as pessoas deficientes em ambientes segregados) alijou-as do resto da sociedade, fortaleceu os estigmas sociais e a rejeição. “Em geral, os locais segregados são prejudiciais porque alienam os alunos. Os alunos com deficiência recebem, afinal, pouca educação útil para a vida real, e os alunos sem deficiência experimentam fundamentalmente uma educação que valoriza pouco a diversidade, a cooperação e o respeito por aqueles que são diferentes“ (Stainback, S. & Stainback, W., 1999, pág. 25)
Os pesquisadores defendem que a escola que atua no perfil da exclusão ratifica o preconceito, inserindo em seus alunos, através da prática, a noção de que a exclusão é uma solução para os “iguais” andarem com seus ”iguais”, o que resulta em um maior conflito social e uma maior competição, pois estes não aprenderam a lidar com as diferenças e não foram estimulados a saberem articular-se na diversidade. (Stainback, S. & Stainback, W., 1999, pág.27)
“Apesar dos obstáculos, a expansão do movimento de inclusão, em direção a uma reforma educacional mais ampla, é um sinal visível de que as escolas e a sociedade vão continuar caminhando rumo as práticas cada vez mais inclusivas.” (Stainback, S. & Stainback, W., 1999, pág. XX)

EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA (EFA)

Entendemos a Educação Física Adaptada como a utilização dos princípios e bases da Educação Física aplicados às pessoas com necessidades especiais, fazendo uso das adaptações necessárias para que possam se desenvolver holisticamente e usufruir das opções que a prática de atividades nessa área oferece. Ela também está sujeita às influências das tendências educacionais, sociais, políticas que atuam diretamente no universo da Educação e do Esporte, como por exemplo a Educação Inclusiva, que vem se mostrando como uma nova tendência educacional e social e transforma as aplicações feitas pela Educação Física, principalmente na área Adaptada.
As abordagens teóricas feitas na área Adaptada, de maneira geral, apontam para um profissional, seja de que especificidade for, comprometido com o trabalho e com o desenvolvimento holístico do indivíduo. Acreditamos com convicção que essa postura deva ser adotada em relação a todas as pessoas, independente de serem ou não da área Adaptada, pois essa disposição e preocupação em contribuir para o desenvolvimento integral da pessoa fazem toda a diferença na repercussão do trabalho oferecido. As exigências feitas para um profissional atuar na área adaptada pela própria necessidade da prática, como o conhecimento adequado da profissão e das especificidades, postura de cumplicidade e ajuda, entre tantas outras, deveriam ser repensadas no computo geral, pois a qualidade, o benefício, as oportunidades surgidas a partir de uma prática comprometida com a qualidade de serviços e de vida serão usufruídas por todos, como defende a Educação Inclusiva.
Então, no intuito de esclarecer a prática da EFA apresentada aqui, colocamos ao dispor do leitor um formulário de entrevista (pág. 28) que elaboramos a partir de inúmeras pesquisas de campo e teóricas, anamnese e entrevistas de maneira geral, às quais tivemos acesso, além da própria prática em si.
É Importante entender que, nesse contato inicial, ou seja, na recepção do aluno e sua família, é quando se transmite o que ele precisa trazer para ingressar no programa de atendimento, o que é oferecido para ele e dentro de quais regras ele deverá se adequar, além da própria entrevista com um dos profissionais que irão possivelmente trabalhar com ele.
A partir de recepcionado o aluno, ele será encaminhando para uma atividade que foi escolhida por perfil, por desejo do aluno e por vaga. Essas 3 variáveis podem coincidir ou não, e cada caso será estudado individualmente. O que quer dizer isso? Por exemplo, vamos supor que o espaço ofereça natação, dança, futebol, bocha, ginástica, atletismo e recreação. Muitos chegam buscando a natação, por ser ela uma modalidade conhecida pelos seus benefícios, que permite uma evolução de trabalho em aspectos significativos para quase todas as limitações e faixas etárias, porém só existe vaga nas turmas que já nadam, pois as aulas individualizadas estão lotadas e têm uma fila de espera, e essa pessoa teria que começar numa turma individualizada. Vamos deixá-la sem atendimento? Não, pois pelo que foi visto até agora (documentação + entrevista) essa pessoa poderia ser encaminhada para a turma de bocha e recreação, pois essas têm o perfil do aluno e iriam estar trabalhando as habilidades e as necessidades trazidas por ele com a mesma possibilidade de resultados. Resta avaliar na atividade para saber se essa previsão inicial se confirma e se há vaga na turma que se encaixa com o perfil do aluno.
Na verdade, o processo de avaliação do aluno já começa na recepção e encaminhamento anteriormente descritos, e permanece ao longo do trabalho, pois é importante acompanhar o desenvolvimento do aluno para ir adequando o trabalho sempre que necessário e possível, contribuindo assim para sua evolução. Porém, especificamente na avaliação inicial, que pode ser uma aula na possível turma do aluno, procuramos identificar seu nível de habilidade motora e social. Durante a mesma buscamos testar alguns limites para poder identificar o quadro geral desse aluno. Então, a observação engloba como ele lida com o novo ambiente, com os novos colegas, com o professor, com os exercícios propostos, com o ritmo da turma e da própria atividade em si, com sua demonstração de prazer, com o seu grau de comunicação, de independência e de obediência na atividade. A partir daí ele é orientado a vir nos dias e horários das atividades recomendadas, dando ênfase na sua presença constante para haver continuidade do que está sendo desenvolvido com ele.
Alguns alunos poderão ser alocados em uma turma mais ou menos adiantada em relação ao que inicialmente pareceu ser adequado, isso porque ainda estamos fechando o perfil daquele aluno para as atividades. Lembre-se que nada é tão definitivo que não possa ser modificado, adequado, melhorado. Para que essa avaliação inicial consiga captar o perfil do aluno, cabe aos profissionais do núcleo EFA conhecerem todas as atividades oferecidas pelo núcleo, e cada um o seu “produto” muito bem, ou seja, o profissional deve dominar o conhecimento inerente ao elaborar o planejamento de cada uma de suas turmas, dos objetivos dos exercícios propostos, do perfil da turma e do potencial de cada aluno, pois isso ajuda a compor a justificativa de um aluno estar nessa e não naquela turma bem como “desenhar” as possibilidades para o mesmo.
Deve-se objetivar ter uma coerência de trabalho na composição das turmas levando-se em conta as variáveis faixa etária, habilidades motora e social, grau de independência, necessidade de apoio e estímulo, possibilidade de ação conjunta com segurança, objetivo da turma e nível de desenvolvimento do grupo. Podemos juntar as patologias e deficiências, desde que todos tenham oportunidades e sejam respeitados. Podemos ter turmas em que o nível de desenvolvimento das atividades pelo grupo e suas habilidades motoras sejam compatíveis, como por exemplo em aulas de natação em que tenhamos as quatro áreas de deficiência envolvidas, todos são adultos e estão no nível de aperfeiçoamento dos nados. Esta turma até poderia ser a equipe de natação daquele núcleo, abrindo assim ampla possibilidade de atuação internamente no trabalho da EFA, no próprio espaço integrado e até para fora do mesmo.
Numa das nossas avaliações periódicas, eventualmente até na inicial, se o espaço for integrado, até poderemos ter alunos encaminhados para inclusão em turmas convencionais, desde que suas habilidades motoras e sociais acompanhem o ritmo da turma e sua faixa etária. Isso porque não interessa incluir um aluno que ainda não está maduro o suficiente para viver essa experiência e, conseqüentemente, por isso possa regredir no seu processo de evolução. Além do mais, temos que saber, antes de encaminhá-lo, se naquela atividade na convencional tem vaga, quantos alunos são por professor, pra qual turma seria o mais recomendado e se o professor quer e tem condições de absorvê-lo com as pequenas adaptações iniciais que normalmente ocorrem. Com isso, nos preocupamos com o sucesso da empreitada na prática. Trata-se ao mesmo tempo de uma parceria que podemos estabelecer com os professores da convencional e uma oportunidade de desmistificação dos possíveis “impedimentos” e dificuldades que um aluno da adaptada acarretaria. Muitas vezes a troca de informações profissionais serve de apoio à atividade e auxiliam a inclusão de alguns alunos, bem como o encaminhamento de outros que possam estar precisando de um trabalho na adaptada, seja temporariamente ou não.
Acreditamos ser importante ter sempre em mente que somos ferramentas do desenvolvimento dos nossos alunos. Isso implica dizer que, muitas vezes, nossa ação interfere na gestão familiar e social do indivíduo, até porque quando trabalhamos as turmas com objetivos didático-pedagógicos com base nos campos psicomotor, cognitivo e social, partindo de um grau menos complexo até um mais complexo, conseqüentemente trabalhamos em favor da sua independência, seu desenvolvimento nas atividades, enfim, sua evolução global; logo, sua auto-estima, seu autoconhecimento, seu autodomínio, suas habilidades psicomotoras e sociais vão sofrendo influência também. Entendemos que esse é um dos maiores prazeres que como professores podemos usufruir do nosso trabalho, feito consciente e profissionalmente bem.
As atividades de competição como festivais, competições internas e outras, bem como as de lazer como festas, passeios, apresentações, entre outras, são de grande importância nesse trabalho, tanto com os alunos como com suas famílias e sua comunidade, e até em última instância em relação à própria sociedade. Isso porque essas atividades também fazem parte das “coisas da vida” e, em muitos casos, os alunos nunca tiveram oportunidade de vivenciá-las, tais como um passeio no Zôo com sua turma, pegar ônibus com os colegas, ver as pessoas torcendo por ele, a própria medalha conquistada, enfim, uma infinidade de experiências e sensações que talvez nunca tenham sido exploradas da forma como podemos explorar. Essas são situações sobre as quais devemos refletir, planejar e executar em conjunto com o grupo de trabalho, para que saiam da melhor maneira possível, pois têm conseqüências que fogem às aulas que damos e, para que se alcancem bons resultados, é imprescindível que elas sempre deixem lembranças positivas.
Estar comprometido com o trabalho é dever de cada um , porém na área adaptada ir além do trivial é necessidade, pois para que nossos alunos possam ter uma “vida comum”, muita coisa tem que ser posta em prática para que ele chegue lá.

“A repetição do exercício de pensar nos torna cada vez mais donos do que fazemos” (Penafort, 2002)

GLOSSÁRIO DE TERMOS (Penafort, 2001)
Esporte Convencional –Conforme Tubino (1999), o novo conceito de esporte surge a partir da aceitação do pressuposto de que a prática esportiva é um direito de todos, somando assim a perspectiva de rendimento (esporte-performance), de participação (esporte-participação) e a de formação (esporte-educação). Entendemos o esporte convencional como a aplicação do conceito de esporte às pessoas não portadoras de deficiências, apesar do pressuposto.
Esporte Adaptado – Segundo Araújo (1998), significa desporto para pessoas portadoras de deficiência elaborado para atender exclusivamente a essa população, adaptando-se as regras e suas práticas. Compreendemos como aquele que está inserido dentro da filosofia e princípios do Esporte, porém voltado para pessoas portadoras de deficiência que queiram participar de práticas esportivas e sejam elegíveis para competições das diversas modalidades, com as adaptações necessárias para a realização das mesmas.
Pessoa Portadora de Deficiência (PPD) - De acordo com o CEAPPD (1996), são pessoas que apresentam algum tipo ou mais de limitações funcionais, caracterizadas como: permanentes, temporárias, totais, parciais, congênitas ou adquiridas, tanto físicas, quanto mentais ou sensoriais.
Lesão Medular (LM) – É uma debilidade neurológica causada por uma lesão na medula espinhal, causando paralisia ou parestesia e alteração de sensibilidade a partir da altura da lesão para baixo, de acordo com o grau da mesma, ou seja, se for uma lesão parcial ou total (WYNGAARDEN et al., 1993; INSERSO, 1994).
Seqüelas de Poliomielite (Polio) – Segundo Werner (1994), a infecção pelo vírus da poliomielite ataca a medula espinhal, danificando somente os nervos que controlam o movimento, causando uma paralisia do tipo flácido na inervação atingida, não sendo progressiva, mas podendo apresentar problemas secundários como conseqüência da mesma, tais como, contraturas, deformação nas curvaturas da coluna, entre outros.
Encefalopatia Crônica (PC) – É conseqüência de um dano ocorrido na parte do cérebro que controla as ações musculares voluntárias, ocasionado geralmente por falta de oxigênio ou trauma (INSERSO, 1994). Segundo Werner (1994), essa lesão depois de feita não progride nem se recupera, podendo ocorrer antes, durante ou depois do nascimento e, como principalmente atinge as áreas que controlam o movimento, pode afetar a postura do corpo e também outras áreas, por exemplo a fala.
Amputação (AMP) – Pode ser devida tanto a membro(s) deficiente(s) congênito(s) ou adquirida como resultado de doença ou trauma, significando a ausência de um membro ou parte dele (PALMER & TOMS, 1992).
“Les Autres” (LA) – São aqueles indivíduos que apresentam alguma deficiência física, mas que não estão dentro das patologias acima descritas, como a Acondroplasia, um defeito hereditário das cartilagens causando redução do crescimento do(s) membro(s); Anquilose, uma fixação ou fundição da articulação; Dismielia, uma má formação de membro(s) como resultado de um distúrbio no desenvolvimento embrionário; entre outras patologias (IPC, 1996).
Próteses - São peças ou aparelhos individuais utilizados na substituição de um membro ou órgão de acordo com o nível de amputação. Há variadas utilizações de próteses como a prótese dentária, a prótese mamária ou a prótese de membros inferiores, etc. Nas próteses ortopédicas há diversos tipos como a imediata, a precoce, a temporária, a permanente e a recreacional (Palmer,Toms,1992).
Órteses - São aparelhos utilizados no corpo por razões terapêuticas. Elas auxiliam por vezes a sentidos que não funcionam plenamente ou aos membros que apresentam algum comprometimento dos movimentos motores, como os óculos ou os aparelhos ortopédicos. As órteses ortopédicas são algumas vezes indicadas como suportes, como as calhas, ou concebidas para uso temporário, como talas (Palmer,Toms,1992).